sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O corpo

Lucian Freud, Leigh and Nicola Bowery


“…dos lábios, o esmalte dos olhos, um determinado sinal, uma maneira ao estender os dedos a fumar; estava fascinado – não sendo o fascínio, em suma, senão a extremidade do desprendimento – por essa espécie de figura colorida, de faiança, vitrificada, onde podia ler, sem nada compreender, a causa do meu desejo”.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso



De início está o corpo. Ele encerra uma sabedoria que não alcançamos e que se mantém adormecida até que as emoções elementares o despertam - o êxtase de um encontro ou um amor que morre.
É um sentir visceral, ligado à nossa raiz animal. Antecede qualquer esforço de racionalização.
O corpo diz-nos também que o amor já morreu. Por breves instantes, é a incomodidade pela presença do corpo do outro. Debatemo-nos porque não queremos aceitar como certa a emoção que nos provoca um território que se tornou hostil. Mas o corpo impõe-se. Subjuga-nos. É a agonia que mantemos secreta até encontrarmos as palavras.





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