Ken Kiff, Master of Saint Giles, 1994
Trata-se de um texto clássico de Joan Riviére sobre o ódio delirante, em particular sobre a inveja intensa, publicado numa edição com Melanie Klein, com o título Amor, Ódio e Reparação. É uma obra datada de 1937. O texto que transcrevo, embora extenso, é de leitura fácil e sempre atual:
“Tendemos a considerar a inveja como sentimento natural ou inevitável; mas é fato comprovado que sentimentos intensos de inveja são característicos de certas pessoas e não de outras, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Conhecemos todo o tipo realmente invejoso de indivíduo, que ostenta perpetuamente uma expressão de inquieto descontentamento e sofrimento, cujos olhos penetrantes dão a impressão de estar incessantemente registando comparações, e cuja preocupação exclusiva é aquilo que não conseguiu obter. E no entanto, na realidade, essas pessoas encontram-se amiúde, sob o ponto de vista material, em melhor situação do que a maioria de quantos lhes estão próximos.
Quando a inveja atinge a esse ponto, ocorre um desajustamento algo exagerado; pois em lugar de se revelarem capazes de obter e conquistar para si mesmas e gozar a satisfação e a segurança da boa sorte, a noção de perigo dessas pessoas (decorrente da sua própria voracidade) é tão pronunciada que as força a protestar e a declarar que nada possuem: isto é, que elas não foram culpadas de voracidade, de tomar à força e acumular para si mesmas e defraudar outras pessoas de coisas valiosas com o propósito de enriquecer. Exemplo comum desse tipo é o indivíduo que, embora sempre invejoso, nunca faz qualquer esforço para adquirir ou obter qualquer coisa, e nunca procura triunfar de nenhuma forma. Aqui é possível observar claramente que tanto a inveja como a falta de sucesso lhe servem de prova de que, na realidade, não está tomando nada dos outros. Embora essa atitude psicológica atenta suficientemente bem o propósito de infundir segurança e confiança renovada contra o medo, trata-se de uma evolução patológica que não faz delas pessoas agradáveis, inclusive para eles próprios. Quanto mais não seja pelo facto de despenderem tanto tempo e energia como fazem ao sentirem-se despojados e frustrados na vida, às pessoas invejosas pouco ou nenhum tempo resta para qualquer prazer imediato. A satisfação indirecta, elas a obtêm ao se sentirem despojadas e ofendidas por outros.
Existe um prazer sádico no acto de depreciar e desacreditar aqueles mais bem dotados, embora possa ser expresso apenas indirectamente; um tipo muito disfarçado e muito deformado de amor está também contido no acto de não tomarem nada de bom para si, contentando-se em desejar e invejar."
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