Gilbert and George, All my life I give you nothing and still you ask for more, 1970
“O ódio é voltado para fora, em lugar do amor, e é utilizado para desviar e encobrir o amor, de tal forma que no final, existe em jogo mais ódio e menos amor na vida”.
Melanie Klein, Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação, Imago Editora
Se o conceito ódio nos parecer exagerado: ódio é uma força destruidora e o amor é uma força unificadora e harmonizadora, tendendo para a vida e para o prazer.
Neste contexto, sobre o desamor de um pai, ouvi um filho dizer: “Se já fui como a minha mãe e não deu em nada. Se já reagi como o meu irmão e deu no mesmo. O que é que eu posso ser melhor, do que ser ele? A partir de agora vou ser ele.”
O método é reflectir em espelho o comportamento de indiferença, alternada com atitudes agressivas e pouco tolerantes de um pai. Mas poderia ser de um marido ou de um amigo.
É um método menos complicado do que o usado na busca atormentada pela atenção do outro.
As expectativas são de aliviar a tensão e de obter um prazer imediato. Pode parecer uma vingança, uma retaliação. O ódio a encobrir o amor. Ou pode ser uma desistência.
Se a atenção ainda é desejada, os perigos são contudo evidentes, mas não perceptíveis no entusiasmo que esta fenda no sufoco, permita respirar. Espera-se que o outro reconheça, e se possa agora adquirir um estatuto de pessoa.
Sendo esta a expectativa, o perigo é testar os limites do amor pela desvalorização e negação da necessidade de dependência. Os dois, pai e filho estão mais semelhantes.
Mas tal como no reflexo no espelho, também na vida arriscamo-nos a tocar e a pessoa já não estar lá.
Mas tal como no reflexo no espelho, também na vida arriscamo-nos a tocar e a pessoa já não estar lá.
2 comentários:
O tornar-se o outro. Temo tanto isso. E o que fazer se o que apetece é confrontar, arrasar o outro, dizer-lhe exactamente o que pensamos dele quando sabemos que não terá qualquer eco?
Também temo. É como a ultima fronteira para quem julga que não tem mais nada a perder. Só os perversos a usam como estratégia banal. O mais triste seria descobrir que o outro não está lá. Na verdade, nunca esteve.
Um abraço
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