segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O teste da realidade


Dali, The Enigma of Desire, 1929

A capacidade de distinguir a realidade da fantasia, é uma dimensão nem sempre fácil de avaliar em particular na adolescência, pela própria natureza do desenvolvimento nesta fase.
Digamos que "a prova da realidade" é considerado por Kernberg um 2º critério de classificação e avaliação clínica de 1) Diferenciação do Eu e do não Eu; 2) Diferenciação da origem dos estímulos, ou seja, intrapsíquico e extrapsíquico; 3)Manter critérios de realidade socialmente aceitáveis.
O juízo  da realidade está mantido nas estruturas neuróticas e limítrofes, não nas estruturas psicóticas, mas é um critério diferenciador entre as estruturas psicóticas e limítrofes (borderline).

O seguinte exercício colocado por Otto Kernberg*, pode ser útil para diferenciar a organização psicótica e a organização borderline da personalidade (que mantém um sentido de ligação com a realidade),  ou a diferenciação entre patologias de caráter mais graves e desenvolvimentos psicóticos atípicos ou incipientes:

De uma forma geral, um método útil para clarificar o teste da realidade do doente é avaliar aquilo que no seu comportamento, afecto, satisfação ou organização formal dos processos de pensamento parece estranho, bizarro, peculiar ou inapropriado. A certa altura, na entrevista, o terapeuta deve confrontar, com tacto, o doente com o que lhe parece inapropriado, para avaliar a sua habilidade empática para com a opinião subjectiva do terapeuta. Quando a resposta do doente indica que é capaz de aderir ao teste da realidade do terapeuta, considera-se que o seu teste da realidade está mantido. Quando, pelo contrário, o doente adolescente parece desorganizar-se ainda mais com o impacte deste confronto, o teste da realidade provavelmente está perdido.”

Um exemplo de falha no teste da realidade num jovem esquizofrénico, poderá ser:

“Por exemplo, um adolescente fica deprimido porque, depois de ter sido o melhor aluno em Matemática durante toda a escola elementar e secundária, fica em segundo lugar no teste de Matemática no último ano do secundário. Quando se pergunta porque razão este facto produziu tão grande reacção depressiva, o adolescente insiste que estava convencido que era o melhor matemático do mundo, e isto foi uma falha imperdoável. Inquirido, com cuidado - como poderia estar ele certo que era o melhor matemático do mundo se, por exemplo outro jovem da sua idade noutro país podia ser ainda melhor – o doente ficou muito zangado. Disse ao psiquiatra examinador que ele era completamente idiota e depois explodiu enraivecido.”

* Agressividade, Narcisismo e Auto- Destrutividade na Relação Psicoterapêutica, Climepsi Editores

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