quarta-feira, 18 de abril de 2012

Da dependência


“…o traço unitário da doença mental – a dependência”.*
Podíamos acrescentar: o traço unitário da saúde mental – ser-se independente de outro ser, porque nos sentimos inteiros, mas a quem permanecemos ligados por uma indecifrável fragilidade.  No amor, a nossa satisfação não se consegue atingir sem que a pessoa que amamos ,esteja satisfeita.
É preciso sermos fortes para vivermos este ofício desprendido – a nossa liberdade de ação que nos dá um sentido de competência e o vínculo que nos liga ao outro em assuntos específicos . Agora, chegamos para estar com ele, estamos mais ricos e mais fortes.“E o vínculo é de lealdade e não de dependência; de afeto e respeito, e não de necessidade e medo da perda.”
Se há um contínuo que liga a normalidade à patologia, a mesma linha une a independência à dependência. Nesta ultima condição, “Alguém faz-me falta para me sentir completo, inteiro; mas não para formar uma nova unidade, o par” (o par amoroso, o par de colegas, o par de amigos….). Pelo que, não se vive bem connosco e com o outro, neste intrincado de necessidades e expetativas irrealistas. É a prisão das esperanças sem sentido que se chocam, e de todas as insatisfações. O que se quer por vezes, é a fusão, que o outro se cole à imagem e semelhança do que desejamos. E que se apague, porque, a pessoa que ele é, na verdade, pouco importa. O que impera é a nossa necessidade e o medo de ficarmos por nossa conta e sós.

*As citações são de: António Coimbra de Matos O Desespero Climepsi (é sobre a patologia borderline)

Na doença mental, a dependência é acentuada na patologia borderline e na esquizofrenia.

Imagem: Egon Schiele Lovers 1914/15

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