sexta-feira, 6 de abril de 2012

A provocação

A provocação sob uma forma de sadismo social:

“O Sr. P., por exemplo, excessivamente tendente à vergonha e narcisicamente vulnerável, era mestre numa forma específica de sadismo social. Embora pertencesse a uma família conservadora, tornara-se muito liberal em seus pontos de vista sociais e políticos. Estava sempre ávido por informar-se acerca da origem social e religiosa de seus conhecidos e, declarando-se racional e sem preconceitos, constrangia-os em reuniões socias introduzindo na conversa o assunto da sua situação minoritária. Embora se defendesse contra o reconhecimento da significação de suas perversas manobras através de racionalizações muito bem acabadas, com o tempo se deu conta de que experimentava uma excitação de colorido erótico nessas ocasiões. Conforme sua descrição, havia um rápido momento de silêncio na conversa durante o qual a vítima lutava para recuperar a tranquilidade depois que a atenção pública se havia dirigido para a sua desvantagem social e, embora todos agissem como se nada tivessem percebido o constrangimento da pessoa vitimada, a significação emocional era clara para todo o mundo. À medida que o Sr P. foi compreendendo a verdadeira natureza de seus ataques sádicos através da exposição publica do defeito social dos outros e à medida que foi aprofundando o conhecimento do seu próprio medo de se expor e do ridículo, foi também sendo capaz de lembrar-se de violentas emoções de raiva e vergonha que sofrera na infância. Sua mãe, filha de um pastor fundamentalista, não somente costumava constranger e humilhar o menino em publico, mas também insistia em expor e inspecionar-lhes os órgãos genitais – dizia ela para descobrir se ele se havia masturbado. Quando criança tinha feito fantasias de vingança - os precursores de suas fantasias sádicas atuais – nas quais expunha cruelmente sua mãe aos olhares de espanto dele próprio e de outras pessoas.”

Heinz Kohut Self e Narcisismo Zahar Editores

(O desejo de transformar uma experiência passiva numa experiência ativa - Freud 1920; O mecanismo de identificação com o agressor - Freud 1936)



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