Do pioneiro da Teoria do
apego, pela sua clareza:
“Nada mais ajuda uma criança
do que poder expressar francamente, de um modo direto e espontâneo, seus
sentimentos de hostilidade e ciúme; e não existe, creio eu, tarefa parental
mais válida do que ser capaz de aceitar com serenidade expressões de devoção filial
tais como “Detesto você, mamãe”, ou “Papai, você é um bruto”. Ao tolerar tais
explosões, mostramos aos nossos filhos que não tememos essas manifestações
hostis e que confiamos em que podem ser controladas; além disso, proporcionamos
à criança a atmosfera de tolerância e compreensão em que o autocontrole pode desenvolver-se.
Alguns pais acham difícil que
tais métodos sejam eficazes ou sensatos, e pensam que se deveria inculcar nas
crianças que o ódio e o ciúme não são apenas coisas ruins, mas potencialmente
perigosas. Há dois métodos comuns para fazer isso. Um deles é a expressão
veemente de reprovação por meio do castigo; o outro, mais sutil e explorando o
sentimento infantil de culpa, consiste em incutir na criança a certeza de que
está sendo ingrata, e indicar-lhe o sofrimento, físico e moral, que tal
comportamento causa em seus dedicados pais. Embora ambos os métodos pretendam
controlar as paixões malignas da criança, a experiencia clínica sugere que nem
um nem outro é muito-bem sucedido na prática, e que ambos acarretam um pesado
ônus de infelicidade. Os dois métodos tendem a fazer com que a criança receie
seus sentimentos e se culpe por eles, levando a recalcá-los e, assim
tornando-lhe mais (e não menos) difícil controlá-los. Ambos tendem a criar personalidades
difíceis: o primeiro – gerando rebeldes e, se for muito severo, delinquentes; o
segundo – a vergonha – neuróticos carregados de sentimentos de culpa e de
ansiedade. Assim é na política, assim é com as crianças; a longo prazo, a tolerância
da oposição paga belos dividendos.”
John Bowlby
Formação e rompimento os laços afectivos Martins Fontes
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