sábado, 20 de outubro de 2012

Paradoxo da dependência

Gustavo Fernandes Entrelaçada na pedra

Na criança: 
“Complementarmente, e ainda que à primeira vista pareça paradoxal, o excesso de frustração – porque realmente, reduz a gratificação necessária e estimulante – provoca mais dependência. Da mãe poderíamos dizer: quanto mais frustrante, mais imprescindível.” António Coimbra de Matos Mais saúde menos doença Climepsi


 “A criança é tanto mais agarrada quanto mais tenha a convicção de que a separação se repetirá.” Burlingham e Freud

Em qualquer idade
“Quanto mais condicional e instável seja a admiração do outro significativo, tanto maior será a dependência do sujeito e o seu desejo de que não se produza o menor afastamento da perfeição para não se expor ao trauma narcisista da rejeição”. Hugo Bleichmar O Narcisismo
Parece ser esta a nossa natureza. É assim na infância - pela dose insuficiente de amor, segurança e tolerância, a criança tende a manifestar dificuldades em aceder a uma real autonomia.
Quando mal tratada pelos pais ou substitutos, torna-se tambem  paradoxalmente dependente destes, ao revelar anseio de proximidade ou até comportamentos de oposição que são outras formas de ligação (pouco saudáveis).
Pode ser assim na vida adulta – arriscamo-nos a ficar numa relação doentia, dependentes daqueles que nos dão pouco, mas que recorrem para isso, a um doce veneno ao se apresentarem fantásticos e indisponíveis. Ou agressivos, de vez em quando, o que também serve para manter o vínculo e gerar no dependente sentimentos ambivalentes de amor e ódio. 
E assim, permanecemos dependentes, não porque o outro tenha atributos que possam justificar a nossa ligação, mas porque usa estratégias que fortalecem o vínculo, a começar por "dar pouco".
Se não tivermos recursos de recuperação suficientes, esta condição pode transbordar para áreas da vida que exigem autoconfiança, capacidade de confiar nos outros e correr riscos.
Ao medo de tudo, não amamos, não estamos apaixonadas. Estamos dependentes.




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