sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O vazio

Tabitha Soren Running



“ Todos esses livros mal lidos, esses amigos mal amados, essas cidades mal visitadas, essas mulheres mal possuídas! Eu fazia gestos por enfado ou por distração. Os seres vinham logo atrás, queriam agarrar-se, mas não havia nada, e era a infelicidade. Para eles. Porque, quanto a mim, eu esquecia. Nunca me lembrei senão de mim mesmo.”

Albert Camus A Queda

Há muito tempo que estou para escrever sobre esta falta de sentido de ligação às pessoas e ao mundo, não por um estado depressivo, mas como o vazio de ser, em que as expressões afetivas não correspondem a sentimentos reais. Nem acredito que seja devido à condição de “Quero fazer-te aquilo que tenho terrivelmente medo que tu me faças”.
É como se entre essa pessoa e a outra, existisse uma parede de vidro que anulasse a capacidade de a reconhecer e valorizar,  sem culpa nem angústia, e a arriscar nesse caminho, continuamente, pelo que, as aproximações não permitem a reparação, sendo esta mais uma condição própria da natureza do vazio.
Procuro a dificuldade. Como situar quem só existe em rosto e lá dentro habita "o nada"? Como identificar quem não dá valor nem significado ao que tem? Que deveria estar e não está? Como nomear as emoções que provoca, de esperas, desesperanças e traições?
Para quem se relaciona com alguém com esta frágil solidez, é o infortúnio das almas rendidas que dão uma segunda oportunidade e não têm medo de ver o vazio bem fundo, não ignorando que este  pode ser a fonte para toda a violência. 

*O derradeiro impulso para escrever sobre este tema, surgiu quando recomendava a uma mãe aflita, que falasse ao ex-marido sobre o filho de ambos. Insisti neste indicação, ao que ela respondeu-me sempre de modo firme: “Não vale a pena”.






















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