quinta-feira, 24 de março de 2011

Os Dons - Juans e os instáveis no trabalho

Jack Vettriano, Wicked Games

Na última ilustração que ofereci – os Dom – Juans no campo do amor e os instáveis no do trabalho – é possível discernir com suficiente clareza os principais processos utilizados, por serem grosseiros e exagerados. Constatamos como os desejos insaciáveis dessas pessoas, que em última análise não se distinguem muito da simples e desregrada voracidade, levam-nos inevitavelmente a mostrar-se insatisfeitos e descontentes com o que quer que recebam, despertando com isso seu temor de dependência, vingança e agressividade, e ameaçando inclusive sua segurança e tranquilidade mental, além da da mulher de quem quer que seja a desapontá-los. Todos os impulsos maus que existem dentro deles – o ódio, a voracidade e o desapontamento vingativo – são então psicologicamente expelidos para a pessoa ou tarefa de que tanto haviam esperado, e ali percebidos totalmente; em seguida, naturalmente, sentem ao mesmo tempo necessário e justificável escapar daquela pessoa ou tarefa.
Ora, a fuga é essencialmente e invariavelmente uma medida de segurança; e cumpre atentar para o que vem a ser salvo pela rejeição.
Fundamentalmente, a vida é resgatada através dela, uma vez que as pessoas desse tipo sentem-se ameaçadas por todos os lados, pelo facto de serem o que são; mais do que isso, porém elas estão tentando também assegurar seu prazer.
Também os Dom - Juans e os instáveis conservam o seu anseio de bondade – tanta quanto são capazes de admitir; e de cada vez recomeçam a antiga busca de maior segurança ou maior prazer no amor ou na satisfação sexual do que jamais encontraram ou hão - de encontrar.

Melanie Klein e Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação Imago Editora
Ano da 1ª edição: 1937


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