“(a propósito da doença do barão de Tolly) Mathilde não se preocupou com isso. Era coisa decidida, nela, nunca olhar para os velhos e para todos os seres reconhecidos por dizerem coisas tristes.”
O Vermelho e o Negro, Stendhal
A deambular pelo luxo dos salões, envolta em cedas e rendas, Mathilde tem a esperança de escapar ao envelhecimento. É um tema de vida que lhe causa horror. A doença também. O barão de Tolly, por ser velho e doente, não espere por uma visita sua.
Ser velho ou doente, condição natural para quem não nega a perenidade da vida, significa para Mathilde ficar à mercê do desamparo e da dependência.
As pessoas tristes relembram-lhe que tem emoções. Também as rejeita por as julgar fracas.
As pessoas tristes relembram-lhe que tem emoções. Também as rejeita por as julgar fracas.
O que a mais rica herdeira do bairro não compreende, é que, não são os velhos que ela despreza, mas sim a sua própria condição humana, de um dia ser fraca, necessitar dos outros e sentir o sofrimento. O seu ego grandioso não o permite.
Mathilde é a personagem narcísica do romance.
2 comentários:
O texto lembra-me os diálogos entre Manoel e Judite no filme "Viagem ao principio do Mundo", do Manoel de Oliveira. É um diálogo muito intenso sobre o envelhecer, retratando em paralelo como os jovens olham para os menos jovens. Manoel, um realizador de idade avançada, interpretado por Mastroianni, fala do que é sentir-se velho, perante a "leveza" de Judite, uma jovem actriz. Eles próprios simbolizam o velho e o novo. O velho, dotado de grande introspecção e a seriedade com que encara o mundo e o novo, innocente e inconsequente.
Deve ser interessante.
Escolhi contudo, este pequeno texto, porque ele retrata uma dimensão presente em personagens narcísicas: a rejeição da fraqueza (doença, velhice, expor emoções….) nos outros, mas sobretudo em si próprio.
Enviar um comentário