terça-feira, 22 de março de 2011

O significado da história de D. Juan

Raffaello, Portrait of Bindo Altoviti


As variadas formas e manifestações de infidelidade (constituindo o resultado das mais variadas formas de desenvolvimento, e traduzindo em certas pessoas principalmente amor, e em outras particularmente ódio, com todos os graus intermédios) têm um fenómeno em comum: o repetido afastamento de uma pessoa (amada), que decorre parcialmente do medo de dependência. Cheguei à conclusão de que, nas profundezas da sua mente, o Dom – Juan vive perseguido pelo temor da morte de pessoas amadas, e de que esse temor haveria de desencadear-se e de exprimir-se em sentimentos de depressão e em grandes sofrimentos mentais, não tivesse ele desenvolvido contra eles esta forma particular de defesa – sua infidelidade. Por esta atitude vem ele provando incansavelmente a si mesmo que o seu único objecto apaixonadamente amado (originalmente a mãe, cuja morte temia por sentir que seu amor por ela era voraz e destrutivo) não é em suma indispensável, já que sempre é capaz de encontrar outra mulher por quem experimenta sentimentos apaixonados porém superficiais.
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Na realidade, ele é conduzido de uma pessoa para outra, já que esta outra não tarda a retomar o lugar de sua mãe. Seu primitivo objecto de amor é pois substituído por uma sucessão de objectos diferentes. Em sua fantasia inconsciente ele vem recriando ou restaurando a mãe mediante gratificações sexuais (que na realidade oferece a outras mulheres), já que apenas sob um aspecto sua sexualidade se lhe afigura perigosa; sob outro aspecto, apresenta-se como reparadora e capaz de torná-la feliz.
Melanie Klein e Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação, Imago Editora
Ano da 1º edição: 1937

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