“As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho mais ou menos indecifrável dentro de nós.”
Eduardo Sá, Chega-te a mim e deixa-te estar, Oficina do livro
A decepção. Não o pequeno tremor frente à improvável atitude do outro. Mas a sensação que algo nos perfurou. Não antevemos possibilidade de regeneração.
Sofre-se duplamente. Pela perda do outro e pela perda desse bocadinho que não conseguimos localizar.
Esse bocadinho, é a imagem do outro que se entrelaçou dentro de nós a uma memória elementar. A toda a riqueza que acumulamos das nossas vivencias reais e fantasiadas. À memória das pessoas que amamos, e do que amamos em nós, apesar dos desapontamentos. É a poção de sobrevivência. Do que acreditamos e confiamos, e que nos faz uma companhia silenciosa.
E subitamente, o outro que é parte de nós, decepciona-nos. Diz-nos que está descomprometido com esses sentimentos e emoções. Ficamos sem sustentação. Aproximamo-nos da morte, por agitar temores de um tempo inseguro e desprotegido.
E subitamente, o outro que é parte de nós, decepciona-nos. Diz-nos que está descomprometido com esses sentimentos e emoções. Ficamos sem sustentação. Aproximamo-nos da morte, por agitar temores de um tempo inseguro e desprotegido.
Se a reserva de amor que temos dentro de nós é a bastante, “isso nos permite compensar um fracasso ou um desapontamento em relação a uma pessoa estabelecendo um relacionamento amistoso com outras e aceitar substitutos para coisas que fomos incapazes de obter ou de guardar”. (Melanie Klein)
2 comentários:
Gostei muito do texto. Faz-me todo o sentido. Ter a a reserva de amor "atestada" é o que nos permite seguir em frente, mas quando esta reserva não existe ou contém muito pouco amor, os sentimentos de solidão e desamparo são inevitáveis. Há que deitar mãos à obra para sermos nós próprios a alimentar agora esta reserva, trabalho este que competia aos pais e que estes não souberam fazer.
Sim. Deitarmos mãos à obra para nos valorizarmos, é muito importante para lidar com a decepção. E também não nos deixarmos afogar em ressentimentos, apesar do que se passou. Para quem teve infâncias "tristes" é mais difícil. Não impossível.
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