Nos diálogos que temos no dia-a-dia, a conversa pode evoluir para um registo tal, que parece que entramos em outra dimensão. Desde situações de sintonia com o outro em que nos sentimos aceites e compreendidos e a conversa flui, até aquelas em que o discurso sai do esperado e nem sabemos o que comentar, se tivessemos oportunidade para isso, o que nem sempre nos dão. Algumas vezes saímos magoados e atacados.
O refúgio num determinado tipo de discurso desadequado à situação, é sinónimo que a pessoa defende-se de algo. E defende-se de uma certa maneira, consoante a sua personalidade, interesses e necessidades.
Para ilustrar os tipos de comunicação verbal de David Liberman (1983), recorri ao romance de Óscar Wilde “O Retrato de Dorian Gray”.
Dorian Gray a principal personagem narcísica do romance, no mesmo dia que teve conhecimento do suicídio da sua “amada” Sibyl, certamente provocado pela sua crueldade, foi nessa noite à ópera. Questionado pelo seu amigo Basil Hallward sobre esta acção, temos este diálogo (abreviado) entre os dois:
Basil Hallward: Foi à ópera, enquanto Sibyl Vane jazia morta em algum sórdido casebre?
Dorian Gray: Cale-se, Basil. Não quero ouvir isso. O que está feito está feito. O passado é passado.
Basil Hallward: Chama a ontem o passado?
Dorian Gray: Que importa o lapso de tempo na realidade decorrido? Só as pessoas banais é que necessitam de anos para se libertarem duma emoção. Um homem que é senhor de si pode pôr termo a uma mágoa com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Eu não quero estar à mercê das minhas emoções. Quero utilizá-las para as gozar, para as dominar.
Estas ultimas declarações (delirantes) de Dorian Gray pareceram-me o apocalipse da omnipotência – até não se acha semelhante ao comum dos mortais. Podemos através delas identificar a total falta de empatia e compaixão por Sibyl, os mecanismos para se defender das emoções, a falta de um real sentimento por ela. Interpretar o comportamento Dorian Gray com recurso a estas dimensões, se a minha competência estivesse à altura, poderia ser muito útil. Mas insuficiente.
Ao recorrermos a David Liberman (1983), e aos seus seis tipos de comunicação verbal característicos de doentes com diferentes tipos de patologia de carácter, melhor compreendemos o discurso de Dorian Gray e ele próprio.
A vontade de Dorian, talvez fosse por fim de imediato à conversa do amigo. Mas para controlar estes impulsos, recorre a um estilo épico de comunicação, que é um estilo cognitivo defensivo encontrado nas personalidades psicopáticas. O recurso a este estilo, protege também Dorian de reflectir sobre o seu comportamento.
No estilo épico de comunicação o indivíduo domina bem a semântica e a sintaxe, mas quanto à pragmática, destorce os factos com o objectivo de manipular (as emoções e o pensamento de Basil), e exercer o poder sobre o outro. De resto, a técnica mais utilizada é o controlo omnipotente para dobrar a vontade do outro.
Um conselho pessoal: na conversação, não reproduza o mesmo estilo de discurso (defensivo) do seu interlocutor. Não é produtivo.
A vossa análise pode não ser concordante. Aqui ficam os seis estilos e as patologias que lhes são inerentes:
Estilo narrativo – patologia obsessivo-compulsiva
Estilo dramático – histérica
Estilo épico - anti-social; psicopatia
Estilo lírico - depressivo-masochista
Estilo dramático que cria suspense – fóbicos
Estilo inquisitivo que não cria suspense – nos doentes que projectam as suas próprias curiosidades paranóides nos outros.
E sobre os 15 estilos de pensamentos deformados: