sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo


PASSAGEM DO ANO
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô morreu também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
...

Carlos Drummond de Andrade, 60 anos de poesia



quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A vergonha

Waldmuler, Fedinand Georg., Jovem camponesa com os três filhos na janela (detalhe)

Heinz Kohut* considera que a vergonha acontece desde cedo na infância, quando a nossa emoção repleta de exibicionismo (saudável) é mobilizada e ocorre na expectativa que o outro aprove e confirme esse nosso comportamento. Segundo aquele autor, é “a inesperada ausência de cooperação” do outro, que cria um desequilíbrio entre a nossa expectativa e a resposta, que sendo difícil de gerir, dá origem à vergonha.

Na criança, a necessidade desajeitada de criar uma brincadeira e a falta de empatia do adulto, é fonte de vergonha. A repetição destas experiências ao longo do desenvolvimento, em conjunto com as humilhações, pode dar origem à vergonha das personalidades narcísicas, que se traduz num medo (paralisante, por vezes) de cair no ridículo. 

* Heinz Kohut, Self e Narcisismo, Zahar Editores

sábado, 25 de dezembro de 2010

Paz e sossego


Já estou a pensar no dia de amanhã.
Onde me apetece estar na 1ª oitava - junto ao mar, a tomar um café e sem veraneantes por perto.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O paradoxo do perdão

O (aparente) paradoxo do perdão:
“O animal homem esquece, mas raramente perdoa. E simplesmente perdoar as ofensas sofridas não é a atitude psicológica mais correcta e saudável. Contudo, o perdão é necessário à saúde mental. Como resolver então este aparente paradoxo. Parece complicado mas não é de todo. Para perdoar é preciso previamente ter acusado. Só depois de acusar, mover o processo de inculpação, é possível o perdão, a amnistia, a clemência.”

Coimbra de Matos, “Mais Amor Menos Doença: a psicossomática revisitada” Climepsi editores

Lembrei-me do tema “perdão”, porque não há Natal sem o gesto redentor para connosco e para com o outro. Diz-se. Com o Natal, também se criam proximidades, nem sempre pacificas, em parte por ressentimentos acumulados e não resolvidos.

Mas qual será a maneira mais saudável de perdoar a quem nos ofendeu, de modo a que possamos seguir em frente? Simplesmente perdoar, pode ser a atitude certa para assuntos menores. Não para o que atinge aquilo que defendemos e que damos tanto valor. As ofensas são muitas das vezes manifestações de desamor, em que o ódio, nas suas diversas manifestações, venceu.

As ofensas sofridas e não superadas, retêm-nos no passado.
Se não reagirmos intempestivamente ao sabor das emoções, damos voltas e voltas, e quando vislumbramos que um espaço aberto se criou, parece-nos que encontramos um modo de resolver connosco a situação. Mas surgem à revelia emoções, que não permitem o sossego: a raiva e a tristeza.

Acusar, far-nos-ia renascer. Restaurar a confiança perdida. Pelo que, é preciso superar o medo de nós próprios e da reacção do outro. São momentos de exposição, em que nos revelamos.
Mas, o que pressentimos da sua humanidade diz-nos que merece a pena.
Devemos encarar esta atitude como o triunfo do amor. Do respeito por nós e pelo outro.

 Aprender a perdoar  e Você deve perdoar? (às vezes é saudável não perdoar, como nos casos de violência doméstica), são dois artigos que podem ajudá-lo a compreender a complexidade do perdão. Mas,  os estudiosos conhecem muito pouco sobre as potenciais implicações negativas de perdão. ou seja, se mais vale perdoar ou não. Na dúvida, talvez seja boa ideia seguir o princípio básico: perdoar não é panaceia, ou seja, remédio para tudo.

* Capela de S. Vicente erguida em 1694

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sindrome do Impostor

Até onde nos podem levar uma baixa auto-estima e a falta de confiança pessoal, na escola ou no local de trabalho? A desenvolvermos a Síndrome do Impostor.

São sentimentos de inadequação, de não merecermos as tarefas que nos foram confiadas, ou a autoridade que nos foi confiada, porque não nos julgamos  suficientemente inteligentes e competentes. Na verdade, acreditamos que somos uma fraude e num dias destes, seremos desmascarados.
São modos de sabotar a felicidade, que podem atingir qualquer pessoa, desde  um colegial a um líder de uma organização.

Segundo o psicólogo Michael Bader, para alguns é um sentimento leve de desconforto, para outros, é um sentimento crónico que atormenta.



Tudo começa pela nossa ambição, saudável, de querermos o sucesso, crescermos em termos pessoais e profissionais, mas depois surge esse mal-estar.

Para saber se tem a Sindroma do Impostor, faça o teste:
- Você secretamente teme que os outros vão descobrir que você não é tão inteligente e capaz como as outras pessoas pensam?
- Você às vezes se coíbe de desafios por causa da persistente auto-dúvida?
- Você tende a desvalorizar as suas realizações, justificando-as como uma "casualidade", "não são grande coisa" ou o facto de que as pessoas são apenas "como" você?
- Você odeia acometer um erro, sente-se menos preparado ou acha que não consegue fazer as coisas com perfeição?
- Você tende a sentir-se esmagado, mesmo por uma crítica construtiva, vendo-a como prova de sua "inépcia?"
- Quando você tem sucesso, você pensa: "Ufa, eu enganei-os neste momento, mas posso não ter tanta sorte da próxima vez." ?
- Você acredita que outras pessoas (alunos, colegas, concorrentes) são mais espertos e mais capazes do que você é?
-Você vive com medo de ser descoberto, sem máscara?

Se respondeu afirmativamente a algumas destas questões, possivelmente sofre da Síndrome do Impostor.
Para ler o artigo de Michael Bader e saber como lidar com o problema, clique aqui.
O site sobre este Sindroma, e o teste, encontram-se  aqui.

E o artigo de Robert W. McGee THE IMPOSTOR SYNDROME [A.K.A. “FAKE IT UNTIL YOU MAKE IT”]: A Case Study, AQUI retirado de: https://www.academia.edu


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mae West


Mae West and Randolph Scott
Nos tempos modernos, a personagem feminina seria uma jovenzinha escanzelada
igual a tantas outras.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O ciúme

 Barbara Kruger, Untitled (We); 1985

Sobre a mulher de um paciente amigo:
“Às vezes, as mulheres que não amam verdadeiramente os maridos sentem ciúmes e destroem as amizades destes. Querem os maridos sem admitirem partilha, justamente porque não lhes pertencem. O núcleo de todo o ciúme é a falta de amor.”
Carl G. Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões

Jung deveria estar muito zangado com a atitude da mulher do amigo, pensamos. A última parte da sentença, “porque não lhes pertencem” é aparentemente enigmática, pelo que merece que lhe prestemos atenção.
Talvez sugira que na base está o ciúme e a sua parente, a inveja.
A inveja pela vontade de se apoderar de uma amizade até ser capaz de a destruir, e o ciúme ligado ao desejo de ter o marido só para si, porque se receia perdê-lo. É o sentimento que não (nunca) se é suficientemente amada.
Dependente do grau (ciúme neurótico, ciúme patológico, ciúme delirante) pode ser uma luta desenfreada pelo impossível – a posse total e exclusiva do outro (Coimbra de Matos).
A relação com esse outro costuma ser ambivalente, ou seja, oscila entre o amor e o domínio, que é uma manifestação do ódio. Pelo que, "..não amam verdadeiramente os maridos" (Jung).

“ (o outro) não lhes pertence”, é a revelação que não confiamos que estamos no seu coração mesmo que recebamos um amor dedicado, porque lá atrás, na nossa infância, não nos ajudaram a aceitar um outro, para além da relação a dois.

Bruno Bettelheim em “Psicanálise dos contos de fadas”, sobre o ciúme que tem a sua origem na relação triangular, pai, mãe e filho:
“ Quando o cuidado terno e amoroso do pai do mesmo sexo não é bastante forte para formar laços positivos mais importantes com a criança edípica, naturalmente ciumenta, e com isso colocar o processo de identificação trabalhando contra esse ciúme, então esse domina a vida emocional da criança”.
Em suma, são venenos tóxicos,  a rivalidade e a competição com um filho.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

D. Giovanni

Ana:
”… que não tenhas ilusões, Giovanni. Dentro de dois meses as tuas hesitações serão ainda maiores. E, de repente descobrirás que deixaste de a amar. Não saberás quando foi, mas será assim. E verás que o que sempre te interessa não é o amor conquistado, mas o esforço para o conquistares. Ou melhor: amas o momento em que o amor se inicia, é a infância do amor que tu amas, as hesitações do princípio. Porque não te fazes alpinista?”
Augusto Abelaira, A Cidade das Flores

Giovanni necessita desta entrega aos devaneios da sedução. É como se enganasse a realidade tornando-a em fantasia, ou seja, numa realidade artificial.
As preocupações mundanas, e sobretudo, as necessidades reais do outro, não são para ele. Se assim fossem, teria de reconhecer a pessoa em cada namorada, o que não se passa. Não se importa com quem elas são, ou o que necessitam. Só se importa com a maneira como elas o fazem sentir.
Seria arriscado deixar-se ficar numa relação de intimidade e reciprocidade, inevitavelmente iria ser questionado, pelo que prefere negar a realidade.
Estas excitações também o ajudam a enganar o tédio.
A ser rejeitado, o que parece ser a dor pela falta que ela lhe faz, é na verdade a manifestação da fúria e ressentimento por alguém ter ousado abandoná-lo.
Giovanni que ama de modo sempre esquivo, é na realidade um amor por si mesmo. Um amor narcísico.



sábado, 11 de dezembro de 2010

O ingrediente secreto das religiões

Turner, The Angel standing in the Sun, 1846

É comum considerarmos que as pessoas que têm uma fé religiosa, são mais felizes. Os estudos de facto, parecem comprová-lo. Contudo, uma nova investigação de Chaeyoon Lim, sociólogo na Universidade de Wisconsin-Madison, concluiu que são as amizades construídas nas congregações religiosas, em vez da teologia ou espiritualidade, que dão satisfação à  vida.
Para saber mais, aqui

É esta a minha Mensagem de Natal: Que sejam felizes os momentos de convívio.




quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reserva



Há situações na vida que nos provocam como defesa um certo retraimento. Podem estar relacionadas com atritos nas relações, ou perdas de vária ordem, como sejam os problemas financeiros, de saúde, luto ou divórcio. Resguardamo-nos. Porque quando as coisas são dolorosas vemo-las no campo das emoções e não no campo da consciência. Por isso faltam-nos durante algum tempo, as palavras para traduzir essas emoções, e os gestos dos quais possamos recuperar.
Culpamo-nos pela entrega a um tempo dorido e desajeitado.
Desconhecemos, que é um modo saudável e útil de nos protegermos.

Isabel Botelho no seu interessante texto “Do degelo psicológico como reanimação da paisagem” apresentado no Seminário "Amores em Tempos de Inverno" da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, refere-se a este processo, como se fosse um congelamento do nosso eu.

Deixo-vos o pensamento do psicólogo Winnicott sobre este assunto:
É necessário incluir-se na teoria que cada um tem do desenvolvimento de um ser humano a ideia de que é normal e saudável para o indivíduo ser capaz de defender o self contra a falha (falência) ambiental específica através de um congelamento da situação de falha (freezing of the failure situation). A par disto, junta-se uma suposição inconsciente (que se pode tornar numa esperança consciente) de que, numa data posterior, ocorrerá a oportunidade de uma renovada experiência na qual a situação de falha se tornará capaz de ser descongelada e reexperimentada, com o indivíduo num estado regredido, num ambiente que faz uma adaptação adequada. A teoria está aqui a apresentar a regressão enquanto parte do processo de cura, um fenómeno normal que, efectivamente, pode ser convenientemente estudado na pessoa saudável”



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Amor em Tempos de Inverno

Este foi o título de um Seminário organizado pela Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, que decorreu em Outubro passado. Foram oradores Coimbra de Matos e Carlos Amaral Dias, entre outros.

A expressão do amor: “Eu sei que tu percebes o que eu sinto, e que tu sabes que eu percebo o que tu sentes”, na comunicação de Coimbra de Matos














AS COMUNICAÇÕES:

Carlos Amaral Dias

Angela Lacerda Nobre

Avaliação Final

Caderno

Camilo Inacio

Carla Albano

Carlos Campos Morais

Coimbra de Matos

Considerações Finais

Dulce Vasconcelos

Filipa Costa Pereira

Isabel Botelho

João Balroa

João Pedro Dias

Jorge Caiado Gomes

José Manuel Matos Pinto

José Manuel Pinto

Luis Fagundes Duarte

Magda Furtado

Maria João  Saraiva

Miguel Correia



sábado, 4 de dezembro de 2010

O Mapa das Emoções

Emanuel Derman apresenta-nos um Mapa das Emoções a partir das emoções básicas do filósofo Spinoza: Prazer, Dor e Desejo. 
Repare-se que no Mapa,  embora no Amor possa haver prazer em causar dor, afirma-se para além daquele, e está muito longe da Crueldade. O Amor está muito próximo da Gratidão, da Aprovação, da Devoção e do Prazer.
  
Saiba mais aqui .
Leia também as respostas à  Pergunta do mês, da publicação Philosophy NowO que é o amor?


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Narcisismo no DSM – 5

O transtorno de personalidade narcisista está em vias de extinção. Não é mais considerado uma  perturbação  psiquiátrica, porque foi eliminado no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que será lançado em 2013. Esta nova edição, eliminou cinco dos dez transtornos de personalidade que estavam identificados na edição anterior.
Vários investigadores já se manifestaram contra esta decisão, chamando de ignorantes aos autores do DSM 5.

É o momento de vos deixar a caracterização deste transtorno segundo Otto Kernberg :
O funcionamento dos indivíduos narcísicos depende da gravidade da sua patologia, numa escala que vai desde as personalidades quase “normais” até ao funcionamento quase limite.
Os que funcionam a um nível mais elevado (isto é têm uma patologia menos grave) não têm sintomas neuróticos e parecem adaptados à realidade social; têm pouca consciência da sua doença emocional, excepto uma sensação crónica de vazio ou aborrecimento e uma necessidade desgovernada de aprovação e êxito. Têm também uma notável incapacidade de empatia e de investimento emocional nos outros. Poucos procuram tratamento, mas posteriormente tendem a desenvolver complicações secundárias à sua patologia narcísica.
No nível mais baixo do contínuo (a patologia mais grave) encontram-se os doentes que apresentam funções defensivas desencadeadas por um self grandioso e patológico nas interacções sociais, mostram características borderline evidentes – isto é, falta de controlo dos impulsos, muito pouca tolerância à ansiedade, graves mutilações das capacidades sublimatórias, e uma predisposição para reacções explosivas ou raiva crónica ou para a execução de distorções paranóicos graves.

Otto Kernberg, Agressividade, Narcisismo e Auto-destrutividade na Relação Psicoterapêutica, Climpsi Editores

Para saber mais sobre a eliminação deste transtorno no DSM 5, clique (aqui).
O artigo de Peter Kinderman  no site "The Conversation": 
http://theconversation.com/explainer-what-is-the-dsm-14127

Para saber mais sobre este transtorno,  em que "...os pacientes não sofrem tanto de sintomas fixos e exuberantes na sua forma, mas, sim, de perturbações vagas, sentimentos de vazio e uma queixa frequente que se reflete na incapacidade de sentir as coisas e as pessoas", o artigo Ressonâncias do narcisismo na clínica


DSM -5 :
http://www.psychiatry.org/practice/dsm/dsm5/online-assessment-measures#Early






quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Otto Kernberg - Sobre o amor, o ódio e a inveja


A entrega

Filme: Lost in Translation

O homem que não atravessa o inferno das suas paixões não as supera. Elas se mudam para a casa vizinha e poderão atear o fogo que atingirá sua casa sem que ele perceba. Se abandonarmos, deixarmos de lado, e de algum modo esquecermo-nos excessivamente de algo, corremos o risco de vê-lo reaparecer com uma violência redobrada.
Carl G. Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões

Na rotina de todos os dias nem damos conta que há ideias que vagueiam pela nossa mente, indefinidas, que persistem num vaivém até adquirirem uma forma, um desejo. Podem dizer respeito a uma pessoa ou a uma ocupação. Hesitamos. Antevemos a necessidade de mudança, mas se esta coloca em causa o que julgamos seguro, tememos a queda. Cientes do que sentimos e queremos, e se chegada a esta fronteira, não fizermos o que poderíamos fazer, amputamos uma parte de nós.
A convicção dos que respeitaram a sua vontade interior, dará lugar à serenidade. A dor é superada.
Numa paixão que não conferiu à existência, um amor, nem damos conta que sobrevivemos à travessia, até que surge de imprevisto uma súbita alegria e uma saudade por quem éramos e por quem nos esquecemos.


domingo, 28 de novembro de 2010

Os efeitos do abuso sobre as mulheres

"É pelo domínio do outro que eles confirmam quem são". João Redondo, psiquiatra
A 25 de Novembro comemorou-se o Dia Internacional de Combate contra a Violência Doméstica. Nunca é tarde para se abordar o tema da violência contra as mulheres. Para quem sofre essas experiências e para quem quer compreender  os efeitos do abuso sobre as mulheres, assim como as estratégias do abusador, um livro de Catherine Kirkwood Cómo separarse de su pareja abusadora, em língua espanhola ou inglesa.
Neste Link, poderá consultar na obra citada (pag. 71 e seguintes), uma completa caracterização dos efeitos do abuso emocional em situações de violência doméstica - as seis componentes na experiência subjectiva das mulheres -  que são:

Degradação – Sentir-se degradada, menos valorizada, menos aceite…
Temor – Sentir ansiedade e temer pela sua segurança…
Cosificação - Sentir-se um objecto, sem recursos, nem desejos…
Privação – A dificuldade ou impossibilidade de satisfazer as necessidades básicas…
Sobrecarga – Sentir um tremendo gasto de energia para manter a relação, a nível emocional e prático…
Distorção da realidade - Sentir-se enredada em dúvidas sobre si própria, sobre o outro e sobre os factos da realidade….

Para compreender melhor e intervir nas situações de violência contra as mulheres, o Manual ALCIPE da APAV.

Para as intervenções em contexto escolar, o Programa da UMAR com 15 sessões.  E os Guias de Educação Género e Cidadania para o Pré- Escolar e 3º Ciclo, em versão integral, aqui.

O programa da RTP sobre a violência doméstica: SERVIÇO DE SAÚDE

POR CADA MULHER HÁ UM HOMEM
Por cada mulher cansada de ter que fingir fraqueza.
Há um homem que gosta de a proteger e espera submissão.

Por cada mulher cansada de ter que agir como uma tonta.
Há um homem que finge saber tudo porque lhe dá poder.

Por cada mulher cansada de ser descrita como "fêmea emocional”.
Há um homem que aparenta ser forte e frio para manter seus privilégios.

Por cada mulher catalogada pouco feminina quando compete.
Há um homem que não se importa de pisar em ninguém desde que seja o primeiro.

Por cada mulher cansada de ser um objecto sexual.
Há um homem que gosta de usar as mulheres para o seu prazer.

Por cada mulher que se sente atada aos seus filhos.
Há um homem que goza de tempo livre à sua custa.

Por cada mulher que não teve acesso a um trabalho ou salário satisfatório.
Há um homem que tira vantagem do trabalho livre feito em casa e não move um dedo para exigir igualdade de direitos das mulheres.

Por cada mulher que não conhece a mecânica de um carro.
Há um homem que, quando ele chega a casa de carro, tem mesa e toalha posta.

Por cada mulher que dá um passo no sentido de sua própria libertação.
Há um homem que tem medo de perder o seu lugar privilegiado perante ela.

Por cada mulher que é vítima de violência doméstica.
Há um homem que a exerce e o nega, apresentando-se como vítima de "provocação" ou do "abuso psicológico" da mulher, e outros homens que olham para o lado num silêncio cúmplice.

Por cada mulher que acredita que os homens querem plena igualdade de direitos, existem centenas de homens, na esperança de que "tudo mude um pouco para que tudo fique na mesma".

Autores:
José A. Lozoya. Coordinador Programa Homens pela Igualdade. Espanha
Péter Szil. Psicoterapeuta. Trabalha em Espanha e na Hungria.
Luis Bonino. Psicoterapeuta. Director do Centro de Estudos da Condição Masculina

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estilos de comunicação


Nos diálogos que temos no dia-a-dia, a conversa pode evoluir para um registo tal, que parece que  entramos em outra dimensão. Desde situações de sintonia com o outro em que nos sentimos aceites e compreendidos e a conversa flui, até aquelas em que o discurso sai do esperado e nem sabemos o que comentar, se tivessemos oportunidade para isso, o que nem sempre nos dão. Algumas vezes saímos magoados e atacados.
O refúgio num determinado tipo de discurso desadequado à situação, é sinónimo que a pessoa defende-se de algo. E defende-se de uma certa maneira, consoante a sua personalidade, interesses e necessidades.
Para ilustrar os tipos de comunicação verbal de David Liberman (1983), recorri ao romance de Óscar Wilde “O Retrato de Dorian Gray”.

Dorian Gray a principal personagem narcísica do romance, no mesmo dia que teve conhecimento do suicídio da sua “amada” Sibyl, certamente provocado pela sua crueldade, foi nessa noite à ópera. Questionado pelo seu amigo Basil Hallward sobre esta acção, temos este diálogo (abreviado) entre os dois:

Basil Hallward: Foi à ópera, enquanto Sibyl Vane jazia morta em algum sórdido casebre?
Dorian Gray: Cale-se, Basil. Não quero ouvir isso. O que está feito está feito. O passado é passado.
Basil Hallward: Chama a ontem o passado?
Dorian Gray: Que importa o lapso de tempo na realidade decorrido? Só as pessoas banais é que necessitam de anos para se libertarem duma emoção. Um homem que é senhor de si pode pôr termo a uma mágoa com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Eu não quero estar à mercê das minhas emoções. Quero utilizá-las para as gozar, para as dominar.

Estas ultimas declarações (delirantes) de Dorian Gray pareceram-me o apocalipse da omnipotência – até não se acha semelhante ao comum dos mortais. Podemos através delas identificar a total falta de empatia e compaixão por Sibyl, os mecanismos para se defender das emoções, a falta de um real sentimento por ela. Interpretar o comportamento Dorian Gray com recurso a estas dimensões, se a minha competência estivesse à altura, poderia ser muito útil. Mas insuficiente.

Ao recorrermos a David Liberman (1983), e aos seus seis tipos de comunicação verbal característicos de doentes com diferentes tipos de patologia de carácter, melhor compreendemos o discurso de Dorian Gray e ele próprio.
 A vontade de Dorian, talvez fosse por fim de imediato à conversa do amigo. Mas para controlar estes impulsos, recorre a um estilo épico de comunicação, que é um estilo cognitivo defensivo encontrado nas personalidades psicopáticas. O recurso a este estilo, protege também Dorian de reflectir sobre o seu comportamento.
No estilo épico de comunicação o indivíduo domina bem a semântica e a sintaxe, mas quanto à pragmática, destorce os factos com o objectivo de manipular (as emoções e o pensamento de Basil), e exercer o poder sobre o outro. De resto, a técnica mais utilizada é o controlo omnipotente para dobrar a vontade do outro.  

Um conselho pessoal: na conversação, não reproduza o mesmo estilo de discurso (defensivo) do seu interlocutor. Não é produtivo.

A vossa análise pode não ser concordante. Aqui ficam os seis estilos e as patologias que lhes são inerentes:
Estilo narrativo – patologia obsessivo-compulsiva
Estilo dramático – histérica
Estilo épico - anti-social; psicopatia
Estilo lírico  -  depressivo-masochista
Estilo dramático que cria suspense – fóbicos
Estilo inquisitivo que não cria suspense – nos doentes que projectam as suas próprias curiosidades paranóides nos outros.

E sobre os 15 estilos de pensamentos deformados:




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Auto-aceitação

Dali, Girl Standing at The Window 1925

Minha impressão é que fiz tudo o que me foi possível. Naturalmente poderia ter sido mais e melhor, mas não em função da minha capacidade.
Carl J. Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões

A impressão de que não fomos suficientemente inteligentes, e não fizemos tudo o que nos foi possível, pode-nos provocar angustia. Mas, se em vez de nos culparmos por termos deixado passar oportunidades, poderíamos pensar que, por alguma razão não estávamos preparadas para elas. Porque o nosso desenvolvimento interior na altura não permitiu, não eram oportunidades e não seriam vividas com sucesso.



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O infinito


Salvador Dali, Landscape with Butterflies


“Em nossas relações com os outros é também decisivo saber se o infinito de exprime ou não.”
Carl G. Jung, Memórias, Sonhos e Reflexões

É preciso que se diga com clareza: há relações que não valem a nossa atenção. Há pessoas que também não valem a pena, o que não quer dizer que não as respeitemos. Mas nós insistimos, às vezes para além do suportável.
Como podemos saber se esta pessoa ou situação, merece que atravessemos os nossos limites ou o inferno, se tiver de ser? Qual o critério? Jung (psicanalista) diz que deveria ser este: esta relação exprime o infinito, ou não? Isto é, crescemos ou não, na relação.
Se nos deparamos com alguma dificuldade em compreendermos o significado do infinito, talvez se torne compreensível se dissermos que a sua ausência, é o sentimento de que “sou apenas isto” ou, esta relação “é apenas isto”. Sabe a pouco.
Mas até este despertar, pouco queremos saber do sentido dos dias vividos um a um. Andamos. O horizonte está próximo e é um manto espesso. Mas em muitos de nós, vai crescendo de maneira inusitada um desassossego. Um desejo de seiva.

Surge então o primeiro momento em que acreditamos que é mais fácil separar as coisas que são fundamentais das futilidades que nos consomem, e das pessoas que não têm nada para nos dar. O ilimitado torna-se essencial. O que nos coloca  perto do mais íntimo de nós, e do mais natural em nós.




domingo, 21 de novembro de 2010

O convite



Lauren Bacall a Humphrey Bogart: Sabes assobiar, não sabes, Steve? Basta juntar os lábios. E... soprar.




sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A experiência da dor

Pesquisadores da Universidade de Harvard descobriram que, a “dor dói mais fundo” se consideramos que quem a causou, fê-lo intencionalmente.

A pesquisa publicada na edição da Psychological Science de 2008, foi liderada por Kurt Gray, um estudante de graduação em psicologia, juntamente com Daniel Wegner, professor de psicologia.
Segundo os autores do estudo, os resultados podem explicar, em parte, porque as pessoas em relacionamentos abusivos, por vezes, continuam a mantê-los. A explicação para estas situações, pode estar na tendência a justificar que o parceiro violento não tinha a intenção de lhes causar danos. Deste modo, algumas vítimas podem reduzir a sua experiência de dor, o que poderia torná-las menos propensas a deixar o relacionamento e escapar do abuso.
Também com preocupações de prevenção, os autores referem que, quando o dano é intencional, pode ser o primeiro de muitos, pelo que é necessário atenção e fazer alguma coisa para evitar que se repita.
Uma síntese desta pesquisa pode ser lida na edição da Sciencedaily


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desamparo e do desprezo por si próprio

Edward Hopper

Anton Ckekov (escritor) percebeu que a hostilidade, a maldade e o sadismo provêm do desamparo e do desprezo por si próprio, porque todos estes fenómenos comportamentais resultam da adaptação a uma realidade hipercrítica.”
Arno Gruen, A Traição do Eu

Nos momentos de pausa, questionamo-nos (o que já é sinal de sanidade), sobre as pressões colocadas pelos diversos poderes que pretendem unicamente a nossa submissão e admiração.
Os que se adaptam ao ponto de ficarem separados dos seus sentimentos e da sua sensibilidade, são realmente os fracos, porque têm medo de sofrer, e não os fortes como nos querem fazer crer. Mas como seres fragmentados, estão cheios de ansiedade, que sendo intolerável, é projectada nos outros sob a forma de maldade, hostilidade e sadismo.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O amante




Sobre o amor:
"Por que razão durar é melhor que arder?" Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso

sábado, 13 de novembro de 2010

Pedir perdão

Rubens, Venus at a Mirror (detalhe)

O pedido de perdão de Dorian Gray do romance “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde representa, para mim, a metáfora do medo em enfrentar o outro nas alturas em que deveríamos pedir perdão.
Após a cena em que Dorian Gray rejeita violentamente Sibyl na sequência da sua lastimável actuação teatral, já em sua casa, vacila entre o impulso em implorar-lhe o seu perdão ou o recurso a algum meio que “adormecesse a sua sensibilidade moral”. Resolve-se pelo pedido de perdão. Escreve-lhe uma carta.
Segundo o narrador “escreveu páginas e páginas de palavras desesperadas de mágoa”. Ao terminar, “Dorian Gray sentia-se perdoado”.
Entretanto, chega um amigo que se interessa em saber do seu estado, a que Dorian responde: “Sinto-me agora inteiramente feliz. Sei agora o que é a consciência. Não posso suportar a ideia de a minha alma ser hedionda”.

Para Dorian Gray, a principal personagem narcísica do romance, perdoar-se a si próprio por ter sido cruel com Sibyl, só porque lhe escreveu uma carta que não entregou, simboliza a recusa de relações de reciprocidade. É a negação da importância do outro. O seu mundo fica concentrado nele próprio, não necessitando do confronto para ser perdoado. O outro pouco interessa, como se se tomasse numa base segura de substituição. Assim, evita-se o confronto, porque este tornaria evidentes as limitações pessoais que a sua fantasia de superioridade, não permite. 

A ansiedade é suportada com recurso aos mecanismos: negação do quanto o está a perturbar a atitude que teve para com Sibyl e a consequente idealização das suas próprias qualidades morais.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os sentimentos de Narciso

Dali, Metamorfose de Narciso (detalhe)

De que se fala quando se fala de narcisismo? As pessoas associam o narcisismo saudável, ao amor por si próprio, quanto baste. Contudo, quanto ao narcisismo que “ultrapassa as medidas”, o narcisismo patológico, facilmente o associamos àquelas personagens exuberantes, que exploram os outros para fins próprios (representado por Narciso), mas raramente, às pessoas tímidas, inibidas e também centradas em si próprias (representadas pela ninfa Eco). Mas os dois tipos correspondem a personagens narcísicas. Assim sendo, o que têm em comum? Dos seus comportamentos, podemos inferir sentimentos, os quais são:

“Uma negação exterior de dependência e um auto – admiração consequente (mesmo na ninfa Eco); por detrás desta ultima, uma raiva oral e uma inveja esmagadora; e por baixo dela, um anseio frustrado de atenção amorosa”.*

Um dado importante, é de que, estes sentimentos afloram de modo mais intenso, nas relações íntimas.
Quando compreendermos na prática, como estes sentimentos se poderão manifestar, julgo que já percebemos alguma coisa sobre o narcisismo patológico (o que procura destruir a auto-estima do outro). Esta compreensão, também é importante para a nossa protecção.
Com a intenção de ilustrar a negação exterior de dependência temos, por exemplo, aqueles comportamentos que abordam o outro com vista aos próprios fins, mas não revelam gratidão. 
Uma das suas dolorosas expressões, talvez seja após a entrega amorosa, a rejeição fria e brutal, que não há qualquer ligação ou compromisso. Este comportamento, revela a  recusa de trocas (emocionais…), e se o indivíduo narcísico dá, espera receber, a dobrar. Na base desta negação da importância do outro, está a inveja.

*Jeremy Holmes, Narcisismo, Almedina

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O amor de Dorian Gray


Dorian Gray é a (principal) personagem narcísica do romance de Óscar wilde.
Dorian Gray apaixonou-se repentinamente por uma jovem actriz de teatro, Sibyl, sem contudo manifestar interesse na sua pessoa real. Isso seria banal para ele. O seu sentimento por ela, povoado de abstracções, estava ao nível dele – “ela suplanta em divindade tudo o que existe”.

Este encantamento de Dorian deve-se, nas suas palavras, a Sibyl ter génio e inteligência, e em conceber nas suas representações teatrais, os sonhos dos grandes poetas, assim como, por dar corpo às ficções da arte. Isto é, apaixonou-se tal como Narciso, pelo que ele queria ser.
A quimera de Dorian Gray terminou, do mesmo modo súbito, quando Sibyl,  em uma noite de representação, e na presença de amigos dele, teve um  desempenho desastroso. No último acto, já a sala estava vazia. Mesmo apaixonada, os maravilhosos versos de Julieta (Romeu e Julieta), saíram-lhe pessimamente mal.  Sibyl era humana!

A reacção de Dorian Gray foi fria e brutal – “Mataste o meu amor”; “Sem a tua arte não és nada”; “Não posso tornar a ver-te”; “Foste para mim uma decepção”.

Sibyl suicidou-se!

Dorian Gray que a “amara por julgá-la grande”, quando soube, recompôs-se, respirou fundo, e pensou: se ela sofreu com a rejeição, ele também sofreu a assistir à sua horrenda representação teatral.
Encontrava-se agora no jardim. Os pássaros pareciam falar dela às flores.

Assim termina este amor narcísico. Sibyl não era vista como uma pessoa. Dorian pretendia-se reflectir nela, através do seu talento para a representação. Tal como Narciso no espelho das águas.

sábado, 6 de novembro de 2010

Maldade

William Bouguereau, Dante et Virgile au Enfers


A maldade além de provocar dano no outro, é também um ataque à  imagem positiva que temos de construir de nós próprios. Pelo que, o acto maldoso é nocivo, tanto para a vítima como para o seu autor.
E, se os pais ou o meio em geral, pela frieza  ou violência, espelham a agressividade da criança, esta vive  na expectativa de que é má. Perde o suporte. A violência perpetua-se.
Só o perdão regenera e, no adulto, o não saber receber o perdão do outro, é um comportamento que desconhece os seus limites - o quanto o amor pode ser frágil. É neste caso, uma defesa contra a esperança.

Recursos úteis para lidar com os comportamentos das crianças, aqui .



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Comunicar


“Temos de fazer as pazes com o facto dessa diferença consistir sobretudo nas mulheres em geral, serem mais realistas, mais abertas à verdade e aos factos. São mais humanas no sentido de estarem menos afastadas dos seus sentimentos, menos inclinadas a lhes escaparem com recurso a abstracções”.
Arno Gruen, A Traição do Eu, Assírio e Alvin

Na comunicação entre as pessoas, o refúgio em ideias abstractas serve de facto para aqueles momentos em que não nos queremos comprometer com uma atitude, falta-nos coragem ou, pretendemos filtrar sentimentos, isto é, escondê-los.

Mas acho que as nossas energias e o nosso tempo, deveriam ser gastos em tentarmos dizer o que realmente pretendemos. E exigirmos o mesmo do outro. Irá contribuir para o nosso bem-estar.
O pior é se, de tanto usarmos as abstracções, já não sabemos ao certo quais são as nossas necessidades. Assim, de tanto nos protegermos, a vida escapa-nos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Manobras (2)


Já alguém deu pelas suas ideias serem deturpadas pela boca de outra pessoa e, suspeitamos que intencionalmente?
Vivemos situações em que fomos elogiados de maneira tão generosa que até desconfiamos?
Já ficamos totalmente invisíveis para alguém, quando era suposto que fossemos vistos por ele e acolhidos na conversa?

Nicole Jeammet em “O Ódio Necessário”, citando Recamier, define estes comportamentos, como estratégias que pretendem agir sobre a mente do outro “sem passar por palavras ou intenções verbalizadas”, mesmo que possam ser inconscientes.

O seu autor não nega que esteja envolvido na situação, isto é, não nega que nos viu, por exemplo. Razão pela qual não se trata do mecanismo de defesa “negação”. É sim , uma “denegação”, porque o acontecimento é usado a seu jeito.
Deste modo, são as necessidades pessoais de quem faz uso destes mecanismos, que prevalecem com a intenção de valorização pessoal. Usadas em excesso, constituem modos perversos de relacionamento. Costumam ser um recurso habitual,  para quem pretende o êxito social e profissional.

Deixo-vos três tipos de "denegação":
Denegação da alteridade. Exemplo: Trata-se de dizer ao outro, como ele é maravilhoso, superiormente dotado, inigualável. Um amigo (sem nos conhecer)! Ao recorrer-se à sedução, pretende-se tirar disso proveito pessoal.

Denegação do sentido. Já não é a sedução que é utilizada, mas o ataque. Exemplo: As nossas palavras são subtilmente desqualificadas, como no caso de uma mãe que prepara o banho para a filha, mas como a água está muito quente, e perante as queixas da criança, a mãe desqualifica o lamento justo, com outro - tanto a filha como o pai não lhe dão o devido valor.

Denegação do significado ou de ligação: Exemplo: Para o outro, nós não temos qualquer interesse ou valor, ao ponto de sermos “invisíveis”.

São manifestações de ódio branco (violência oculta) e resultam da inveja e da frustração.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O corpo

Lucian Freud, Leigh and Nicola Bowery


“…dos lábios, o esmalte dos olhos, um determinado sinal, uma maneira ao estender os dedos a fumar; estava fascinado – não sendo o fascínio, em suma, senão a extremidade do desprendimento – por essa espécie de figura colorida, de faiança, vitrificada, onde podia ler, sem nada compreender, a causa do meu desejo”.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso



De início está o corpo. Ele encerra uma sabedoria que não alcançamos e que se mantém adormecida até que as emoções elementares o despertam - o êxtase de um encontro ou um amor que morre.
É um sentir visceral, ligado à nossa raiz animal. Antecede qualquer esforço de racionalização.
O corpo diz-nos também que o amor já morreu. Por breves instantes, é a incomodidade pela presença do corpo do outro. Debatemo-nos porque não queremos aceitar como certa a emoção que nos provoca um território que se tornou hostil. Mas o corpo impõe-se. Subjuga-nos. É a agonia que mantemos secreta até encontrarmos as palavras.





quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Manobras (1)



Na verdade, a literatura psicanalítica não se refere a “manobras”, mas a “compensações”, que são mecanismos (de defesa) que utilizamos quando o nosso amor-próprio é ferido, e que as personagens narcísicas utilizam em excesso.
Trata-se de atitudes agressivas. Estes comportamentos, pretendem restaurar o orgulho ferido, aliviar a tensão e recuperar o sentimento de controlo nos outros e sobre as coisas, visto que para o indivíduo é humilhante não ser como deveria ser, o que dá origem à ansiedade.

Seguindo o pensamento de Hugo Bleichemar em “O Narcisismo”, não existe agressividade sem uma ideia na base, mesmo que a pessoa não seja consciente da mesma. Essa ideia, que se procura comunicar ao outro, é habitualmente, “ Eu sou poderoso e não frágil”.
Neste contexto, um conceito importante sobre as personalidades narcísicas - repor o orgulho ferido é mais importante que a satisfação da troca com o outro. Além do mais, dependendo da vulnerabilidade sentida,  quase tudo pode ser entendido como um ataque à auto-estima.
Outra ideia que parece-me importante para compreendermos, por exemplo a megalomania, é que não há no humano, a possibilidade de se ter auto-estima a mais.

Aqui vos deixo, alguns exemplos de defesas perante a ansiedade narcísica:
Megalomania
Exibicionismo secundário (exemplo da verborreia em público)
Don- Juanismo
Raiva
Negativismo (usualmente as pessoas identificam como“estar sempre do contra”)
Cultivo do ressentimento
Abuso do poder
Sadismo (é uma variante do poder, que se traduz em ter prazer em fazer o outro sofrer)
Masoquismo
Desqualificação do outro.